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O controle de verminose na produção orgânica de caprinos e ovinos
Luiz da Silva Vieira
No Brasil, uma importante fonte de perdas econômicas na produção de pequenos ruminantes são as infecções causadas pela verminose gastrintestinal. Dentre os vermes que acometem caprinos e ovinos, destaca-se o Haemonchus contortus, que é um parasito que se alimenta de sangue. Devido ao hábito hematófago, animais com altos níveis parasitários poderão perder até 145 ml de sangue dia, conseqüentemente, após a infecção, os animais desenvolvem um quadro de anemia grave, em um curto período de tempo. As respostas imunológicas contra a reinfecção se desenvolvem de maneira lenta e incompleta, deixando os rebanhos sujeitos à reincidência das formas clínicas e subclínicas dessa parasitose.
O controle da verminose de caprinos e ovinos, geralmente é realizado, através do uso de anti-helmínticos, pertencentes a diversos grupos químicos, na maioria das vezes, administrados sem levar em consideração os fatores epidemiológicos da região, os quais, interferem diretamente na população parasitária ambiental e, consequentemente, na reinfecção do rebanho. A maioria dos produtores não adota o esquema de vermifugação estratégico, nem realiza anualmente, de forma racional, a alternância dos grupos químicos utilizados, com isso, os endoparasitos rapidamente desenvolvem resistência às drogas disponíveis no mercado.
Atualmente a resistência anti-helmíntica é considerada um dos principais entraves para o sucesso dos programas estratégicos de controle de verminose. É importante considerar que em rebanhos onde há problemas de resistência anti-helmíntica, o prejuízo econômico ocasionado pela verminose é mais acentuado, uma vez que além da queda na produtividade do rebanho, os produtores ainda desembolsam recursos financeiros para a aquisição de ant-helmínticos, cuja eficácia é altamente comprometida, em função da resistência dos vermes.
Além disso, os resíduos de compostos químicos eliminados com as excreções dos animais tem sérios efeitos no meio ambiente, efeitos estes só aparentes após o uso considerável. Em algumas situações, os resíduos poderão entrar na cadeia alimentar humana, podendo ocasionar problemas de saúde pública. Considerando a importância dos endoparasitos gastrintestinais na produção de caprinos e ovinos, bem como os problemas acima apontados, no que tange a resistência anti-helmíntica, a presença de resíduos químicos nos alimentos e no meio ambiente, além dos aspectos econômicos referentes aos custos dos vermífugos, torna-se necessário o desenvolvimento de estudos que visem à busca de outras alternativas complementares aos métodos tradicionais, que sejam de baixo custo e menos prejudiciais à saúde humana e ao desequilíbrio ambiental.
A comprovação experimental e a conseqüente implementação de outras alternativas de controle, deverá reduzir o número de vermifugações anuais. A redução da pressão anti-helmíntica sobre os vermes, por sua vez, irá prolongar a vida útil desses compostos, retardando o desenvolvimento da resistência anti-helmíntica e a redução da presença de resíduos químicos nos alimentos de origem animal. Este aspecto é de fundamental importância, em virtude da pressão cada vez maior por parte dos consumidores, por alimentos isentos ou com um mínimo de resíduos químicos. O uso reduzido de compostos químicos, por sua vez, implicará na redução da contaminação ambiental, motivo de preocupação mundial. Dentre as alternativas que poderão auxiliar no controle da verminose dos pequenos ruminantes, a identificação de animais resistentes, a identificação de fitoterápicos com efeito anti-helmíntico, o uso de medicamentos homeopáticos e o controle biológico através de fungos nematófagos predadores de ovos e larvas dos vermes no meio ambiente, estão sendo pesquisadas e se apresentam como as alternativas mais promissoras.
Fonte: EMBRAPA Caprinos